Rolando Toro 2025, para uma existência feliz!

Todos os movimentos humanos são organizados pela programação genética. Rolando Toro

Hoje, 19 de Abril de 2025, a Escola de Biodanza Sistema Rolando Toro – BRT Porto, celebra com muita alegria o Dia Mundial da Biodanza, ano em que Rolando Toro faria 101 anos, com a publicação deste artigo sobre o módulo Movimento Humano. É extasiante a complexidade, dimensão e coerência deste pensador voraz, criativo e autónomo, que oferece uma base sólida para a investigação e desenvolvimento de uma Ciência do Movimento.

Na sua reflexão sobre a expressão corporal e a motricidade, propõe o Modelo Sistémico do Movimento Humano onde sintetiza “todos os aspectos do movimento humano e as suas correlações de complexidade e unidade” com o objectivo de “recuperar a integração psicofísica” do ser humano. Num modelo, com quatro pólos definidos de acordo com a origem dos movimentos, desenham-se dois eixos. Um eixo horizontal que agrupa à esquerda os movimentos organizados pela consciência (Pólo IV) e à direita os movimentos organizados pela vivência (Pólo II). E outro vertical que pesquisa a integração do movimento, na base os movimentos organizados pelos instintos (Pólo I), e no topo, a graça característica observada nos movimentos naturais orgânicos (Pólo III). Destes eixos nascem quatro quadrantes delimitados por uma elipse onde Toro localiza no interior as diversas disciplinas corporais e no exterior indica quais os níveis de integração que produzem, nomeadamente, a integração ideo-motora (movimentos intencionais e voluntários que exprimem escolhas determinadas pela consciência), a integração sensitivo-motora (capacidade de se mover com sensibilidade) e a integração afectivo-motora (coerência entre a emoção e o gesto). A cada pólo do modelo faz corresponder as categorias de movimento, modalidades de expressão da motricidade, descrevendo as suas características e efeitos, que têm repercussões radicalmente diferentes ao nível neurofisiológico e psicológico. Associa designadamente ao Pólo I – Movimentos organizados pelos instintos, as categorias de movimento: ritmo, sinergia, potência, flexibilidade, elasticidade e equilíbrio; ao Pólo II – Movimentos organizados pela vivência, a categoria de movimento: expressividade; ao Pólo III – Movimentos naturais orgânicos (a graça), as categorias de movimento: agilidade, fluidez e leveza; e no Pólo IV – Movimentos organizados pela consciência, as categorias de movimento: controlo voluntário e intencional, resistência e coordenação. Da análise do modelo, sublinha a quase total ausência de disciplinas que implicam movimentos unidos à vivência e à emoção, isto é, que favoreçam a integração afectivo-motora. Deste diagnóstico decorre o impedimento da mudança do estilo de vida.

A dança, tal como o canto e o grito, é uma das condições inatas do ser humano. O primeiro conhecimento do mundo, anterior à palavra, é aquele que ocorre para cada um de nós através do movimento. Num sentido original, a dança surge das profundezas do ser humano: é um movimento de vida, de intimidade; é impulso de união com a espécie. Rolando Toro

O meu propósito é tornar claros os modelos de movimento que são funcionais para uma profunda conexão com a vida. Rolando Toro

Das suas pesquisas sobre o significado primordial da dança entendida como ‘movimento natural’ ligado à emoção e pleno de significados, movimento integrador, movimento de vida, Toro estruturou os exercícios de Biodanza com base nos seguintes Modelos naturais de movimento:

1. os movimentos naturais da espécie, como o caminhar, o espreguiçar, o saltar;
2. os gestos ligados aos “ritos sociativos”, pesquisa desenvolvida pelo etólogo austriaco Iranaus Eilb-Eilbesfelt no seu livro “Amor e Ódio” onde se refere:

   à gestualidade do contacto íntimo, de saudação, regulando os encontros humanos de forma ritual. Estes gestos e ritos são considerados instintivos e fazem parte do repertório inato dos seres humanos enquanto seres sociais, capazes por natureza de utilizar gestos carregados de significado simbólico Viviana L. Toro Matuk

   nomeadamente o dar a mão, o abraçar, embalar e o acariciar;
3. e os gestos arquetípicos, que pertencem ao inconsciente colectivo, descrito por Carl Gustav Jung, gestos com um significado psicológico profundo, e que Rolando Toro seleccionou vinte e dois.

No seu livro Biodanza, editado por Eliane Matuk cuja última edição foi publicada em Milão, por: Red Edizioni, em 2016, apresenta três exemplos de exercícios que ilustram a aplicação dos Modelos naturais do movimento. O primeiro é o Caminhar fisiológico baseado no movimento natural de caminhar onde salienta o seu carácter como expressão existencial.

Esses passos através do fio abissal do destino podem mostrar o atraso infinito de um projecto existencial jamais cumprido, ou a qualidade triunfante de uma existência que avança sem pressa. Rolando Toro

Depois explicita que o exercício do Encontro, baseado no gesto ligado ao “rito sociativo” do abraço,

A emoção ligada a este gesto tem uma qualidade insubstituível, que vem do acto de sustentar o outro em toda a sua ‘humanidade’. Rolando Toro

tem como objectivo a reeducação afectiva através da aprendizagem dos gestos de aproximação, comunicação e contacto em reciprocidade (feed-back), o que implica o respeito e a sensibilidade em relação aos outros e a capacidade para exprimir com clareza os próprios limites. Por conseguinte, o exercício do Encontro, estimula uma forma indiferenciada de afectividade que sustentará no quotidiano a diminuição dos comportamentos discriminatórios e baseados em pré-conceitos. O potencial afectivo é o pilar fundamental

do sentimento de pertença do ser humano à sua espécie, ao seu mundo – o planeta Terra – e a todo o universo.. Rolando Toro

E por último, os gestos arquetípicos que inspiram os exercícios Posições geratrizes de dança, gestos que Toro define como eternos, pois a sua representação é encontrada nos baixos-relevos, esculturas e pinturas de cada época, como gestos que exprimem adoração, intimidade, senso de maternidade, ou ligados a actividades arcaicas relacionadas com natureza, como a agricultura.

Toro estruturou um grande número de exercícios aplicando uma modalidade de movimento a que chamou movimento em “câmara lenta”, que consiste na desaceleração da velocidade natural dos gestos e dos movimentos corporais humanos. Deste ensaio pode verificar que este tipo de movimento aumenta a cenestesia (sensação de bem-estar geral); facilita a integração afectivo-motora e sensitivo-motora; predispõe aos estados de transe e expansão da consciência (reduz a vigilância); não responde a um objetivos práticos; tem um efeito harmonizador (ligado à predominância dos processos de integração extrapiramidal e cerebelar).

Enfrentar o argumento do Movimento Humano e dedicar-se ao seu estudo em Biodanza, é em si uma experiência corajosa que abre portas para uma inevitável mudança na visão sobre o próprio movimento e para relacionar-se com a base estrutural operativa do sistema. E por isso a Escola parabeniza todos os participantes do último módulo.

Numa respeitosa homenagem, obrigada Rolando Toro, por acreditares na natureza amorosa, inata e instintiva da espécie, e consagrares a importância desta chave-mestra como programa essencial na harmonização das relações humanas e de celebração da sua grandeza.