Pele, o sistema nervoso externo

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Pele, o sistema nervoso externo

Para assinalar o epílogo deste primeiro ano da Escola de Biodanza Sistema Rolando Toro – BRT Porto, com o módulo de Contacto e Carícias em Biodanza, destacamos a referência bibliográfica incontornável de Montague Francis Ashley-Montagu (1971), Tocar, o significado humano da pele, pela sua afinidade de pensamento com Rolando Toro.

Desde cedo, Rolando Toro dedicou-se a investigar a importância curativa do contacto, motivado pelas evidências clínicas de distúrbios dermatológicos de origem psicossomática. Defendia as terapias do contacto e estudou detalhadamente as funções integradoras da pele, agrupadas nas categorias fisiológica, sensorial, expressiva, erótica e psíquica. Nesta síntese, focamo-nos na função sensorial.

A questão central da investigação de Ashley-Montagu reside na “forma como a experiência táctil, ou a sua ausência, afecta o desenvolvimento do comportamento”, desde a vida intrauterina até à morte, ao longo de toda a existência humana. Propõe uma abordagem somatopsíquica — do corpo para a mente — em contraste com a abordagem psicossomática, que procede da mente para o corpo.

A pele é o maior órgão do corpo e, consequentemente, o maior órgão sensorial. A sua formação inicia-se pouco depois da fecundação, a partir de dois folhetos embrionários: o ectoderma e o mesoderma. O ectoderma origina a epiderme — a camada mais superficial da pele — e o sistema nervoso. A derme, camada mais profunda, desenvolve-se a partir do mesênquima, um tecido conjuntivo embrionário derivado do mesoderma.

Ashley-Montagu descreve a pele como um ‘sistema nervoso externo’, a parte visível do sistema nervoso central — ou, se quisermos, o sistema nervoso é a parte oculta da pele. “A pele é um sistema orgânico que, desde a sua diferenciação inicial, permanece em íntima associação com o sistema nervoso central”, desempenhando a função de perceber e mediar o mundo que nos rodeia.

A função sensorial da pele manifesta-se através do tacto, o primeiro sentido a desenvolver-se no embrião, iniciando-se por volta da 7.ª ou 8.ª semana na região perioral e expandindo-se progressivamente até cobrir todo o corpo, estando funcional no nascimento.

O tacto permite perceber estímulos como pressão, temperatura, textura, dor e vibração. Estes estímulos são detectados por mecanorreceptores, termorreceptores e nociceptores, sendo transmitidos ao córtex somatossensorial do cérebro, que processa a informação. O homúnculo sensorial, desenvolvido por Wilder Penfield na década de 1930, representa visualmente a quantidade de córtex somatossensorial dedicada a cada região do corpo, refletindo a sensibilidade táctil de cada área:

  • regiões com maior densidade de receptores, como lábios, mãos e pés, correspondem a áreas corticais mais extensas;
  • partes com menor densidade de receptores, como costas e coxas, têm representação cortical mais reduzida.

O tacto é, assim, o sentido que nos conecta fisicamente ao mundo externo, permitindo experienciar, expressar e integrar relações com o ambiente e com os outros.

Agradecemos profundamente a todos os didactas, alunos e equipa pelo empenho, curiosidade e dedicação, que tornaram este primeiro ano da Escola uma experiência sensorial rica, estimulando a nossa sensibilidade e contribuindo para a transformação da nossa vida psíquica.

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